Exemplo de Cidadania
Imagine a cena: de um lado, um parque com mais de 200mil metros quadrados de área verde, abandonado, sem iluminação, entregue a trombadinhas e traficantes, local de descarte de entulho e sujeira. Um parque com apenas 2 bancos para sentar e nada mais, que ninguém frequenta pela falta de segurança. Assim era o Parque D. Pedro até 2015.
De outro lado, sem protestar nas vias, sem parar a cidade, sem prejudicar os direitos de ir e vir de nenhum cidadão, da criança que vai à escola, o jovem no seu primeiro dia de emprego ou do idoso a caminho do hospital. Sem queimar um único pneu causando danos ambientais ao nosso ar e sujeiras em nossas ruas, ou seja, simplesmente sem causar prejuízos nenhum a sociedade.
Tudo que foi feito foi sentar na mesa de reunião com os responsáveis e discutir de forma civilizada. E os resultados foram imensos! Uma prova de exemplo de cidadania que funciona.
Dna. Marina Atsuko Ueno, uma “jovem guerreira” de quase 80 anos e eu, Marcos Palhares, líderes comunitários no bairro do Brás, engajamos uma luta para revitalizar o Parque D.Pedro na região central de São Paulo.
Dna. Marina, mais conhecida como Marina do Brás, é uma imigrante japonesa de um metro e meio de altura, moradora da Rangel Pestana. Conheci Dna. Marina enquanto colhia assinaturas para um abaixo-assinado com reinvindicações para a presença pública na região. Quando contei a ela que tinha conseguido 400 pessoas, para minha surpresa, ela já tinha colhido 4mil assinaturas para um manifesto semelhante!
A partir daí, criamos uma relação de união e admiração mútua que nos levou a conseguir diversas melhorias para o Brás, como a reforma das calçadas, o plantio de mudas de ipês, a melhora da iluminação local e o fechamento de buracos nos viadutos, que serviam para esconderijos de trombadinhas que atuavam na região. Para o Parque D.Pedro não foi diferente.
Não foi fácil, não foi rápido, mas como sempre, a persistência venceu e trouxe suas conquistas! A reforma do Parque D.Pedro é uma reivindicação de 8 anos de reuniões, que mobilizou toda a comunidade do Brás que se juntou a causa, fez abaixo-assinados com mais de 5mil assinaturas, promovendo participações ativas nos encontros, discussões em audiências públicas, protestos, reinvindicações e muita, mas muita cobrança. Todos são vitoriosos, os participantes da CONSEG, Rotary Brás, voluntários, moradores, comerciantes, cada um teve papel crucial e contribuíram para a pressão junto as autoridades.
Por anos o parque D.Pedro esteve abandonado, uma jóia verde em meio a um mar de concreto. As trocas de subprefeitos da Sé, responsáveis pela gestão do local eram constantes e o cansaço e a perda da fé na coisa pública foi o maior desafio para mim e Dna.Marina. Reuniões eram feitas e decisões tomadas, poucos meses depois, era empossado novo subprefeito…e tudo tinha de começar do zero.
Na reunião com a Secretaria do Verde e Meio Ambiente de SP, a descrença e o desapontamento foram ainda maiores. Apesar da boa vontade em nos receber, nada fez pelo parque e assim continua. Segundo este órgão, a alegação que nada podia ser feito tem como base o fator burocrático, já que o Parque D.Pedro não é parque segundo os mapas da Prefeitura, chama-se Praça Ulisses Guimarães. Deste modo não compete uma administração, fadando o parque D.Pedro a apenas algumas varreduras e limpezas eventuais.
Outro ponto discutido, na hipótese de corrigida a questão burocrática, o problema se transformaria na questão da contenção de verbas, segundo esta Secretaria, que já não atende os parques atualmente sob sua jurisdição.
Descrente na pró-atividade da Secretaria do Verde e Meio Ambiente quanta a esta questão, voltamos os esforços a Subprefeitura, que depois de inúmeras promessas, finalmente conseguimos a liberação de verbas.
O senhor subprefeito Alcides Amazonas trouxe a boa notícia. Foi publicado o Edital com verba destinada no valor de R$ 1.414.329,87 processo 2014-0.205.686-5 publicada em diário oficial no dia 10 de Setembro de 2015. Antes de ficar simplesmente mencionando números num papel, nosso trabalho era cobrar e ver para crer.
Foi com muita emoção que presenciamos os primeiros caminhões de terra chegando para trabalhar em Outubro de 2015, sendo que todas intervenções e melhorias tem prazo para término em meados de Maio de 2016.
Entre os trabalhos, as conquistas da comunidade foram as seguintes:
- Reforma do campo de futebol, com inclusão de alambrado de proteção do perímetro;
- Aquisição de parque para crianças, incluindo casa do Tarzan, balanças, gira-giras, etc;
- Construção de banheiros masculino e femininos, adaptados para portadores de deficiência e cadeirantes;
- Equipamentos de ginastica laborais para terceira idade;
- 43 Novos bancos para sentar;
- Recuperação do piso com mosaicos;
- Pista de cooper;
- Eliminação de grades;
- Intervenção para presença da guarda municipal,
- Compra de latas de lixo e bebedouros;
- Criação de uma pista de skate de mil metros quadrados;
- Criação de uma quadra poliesportiva;
- Palco para atividades de Yoga e outros;
- Garantia de limpeza constante;
- Iluminação.
Dia 11 de Maio de 2016 estivemos junto com o engenheiro e Secretário de Obras da Subprefeitura Sé Sr.Tadeu, para acompanhar a vistoria das obras. Está quase tudo pronto. Foi uma alegria imensa presenciar que crianças já estão frequentando a região, que está limpa e visivelmente bonita.
Agora fica uma questão: como a Secretaria do Verde não vai administrar o parque, quem o fará? A subprefeitura não tem esta jurisdição. Da mesma forma, como o local é conhecido no papel como Praça Ulisses Guimarães, não é possível incluir uma administração própria para gerir e cuidar dos novos recursos. Sem zeladoria ou administração, será impossível conservar as novas aquisições. O Subprefeito deseja que a própria comunidade crie uma comissão de gestão, mas aos nossos olhos é como transferir a responsabilidade a quem não compete poderes e recursos. O novo parque pode ficar velho em pouco tempo, e os quase 1,5milhões de verba pública podem saír pela descarga. Assim fica difícil.
Vamos aguardar os próximos capítulos desta novela e esperar que os gestores públicos assumam suas responsabilidades e se organizem como deveria ser de fato.
Peço a mídia que ajude nesta divulgação e estamos à disposição para mostrar o que foi conquistado e o que precisa ser feito. Quem ganha, é a sociedade.