O papel do turista no desenvolvimento da exploração espacial

Trabalhei neste artigo porque percebi que uma boa soma de pessoas ainda enxergam com desdém o papel do turista espacial no contexto do nosso desenvolvimento, seja político, científico tecnológico ou social. A ideia central predominante é que o turista espacial é uma pessoa rica, atrás de alguns minutos de fama e sucesso midiático. De fato, até o momento foram menos de uma dezena de pessoas ao espaço em caráter turístico, todos bilionários focados nos seus apetites de realização pessoal. Mas vale aí um ponto que precisa ser tocado…

A exploração espacial sempre esteve amarrada aos assuntos de governo, presos na lenta gestão política e no crescente jogo de interesses de forças entre os países. Desde quando o homem foi ao espaço pela primeira vez em 1961 e Yuri Gagarin disse que “a Terra é azul”, passaram-se mais de 50 anos e um mísero punhado de 500 pessoas no espaço, algo como 10 por ano. É verdade que ir ao espaço é extremamente caro, exige um grande número de pessoas empenhadas na sua gestão, envolve tecnologias sensíveis que estão sendo testadas, envolve riscos e treinamentos específicos.

Embora tudo isso possa parecer suficiente para que o espaço seja destinado a super militares e cientistas dedicados, um ponto fica descoberto e sem sentido. Afinal, o que seria da humanidade se apenas 100 pessoas pudessem pilotar um avião, outra centena pudesse pilotar um carro ou um barco, ou mais uma centena pudesse ter acesso e mergulhar nas profundezas de nossos oceanos? Imagine então que todos estes mecanismos já foram considerados inacessíveis aos comuns tempos atrás, pois demandavam além de coragem, complexos e caros sistemas de navegação, dispositivos de sobrevivência e treinamentos específicos, onde apenas algumas pessoas estavam suficientemente preparadas a seus riscos.

Imagine se Santos Dumont quando inventou o avião não tivesse liberado as patentes de seu invento para a humanidade, para que outros pudessem ter acesso as suas ideias e melhorá-las, desenvolvendo equipamentos ainda mais acessíveis? Foi a economia e a livre iniciativa que acelerou melhorias que seriam vitais ao acesso de essas e outras possibilidades tão comuns nos dias atuais. Mas o que o turista espacial tem a ver com isso?

Ora, é justamente o “efeito demanda” que este tipo de viagem precisa para transformar novamente nosso mundo. Veja então que Colombo trouxe 500 anos atrás o mesmo punhado de pessoas, já que os mares estavam “ocupados por imensos monstros devoradores” e por isso apenas alguns fortes e corajosos homens se permitiam ao desafio das descobertas. Mas após Colombo, muitas outras Naus chegaram de todas as partes e o mundo foi povoado graças as nascentes fontes de riqueza geradas pela economia. A navegação se desenvolveu por completo ao ponto que hoje temos nações plenamente desenvolvidas no novo mundo e dos quais alguns moradores podem realizar seus  Cruzeiros para a Antártica.

O que estou tentando dizer, é que se por um lado o turista espacial pode parecer para alguns um inconsequente endinheirado tentando aparecer, na verdade ele é um importante investidor que com pioneirismo está contribuindo para mudar o mundo e a humanidade como a conhecemos. De fato, nas palavras de um notável inventor de foguetes espaciais pela iniciativa privada, Burt Hutan: “ se pessoas como eu não fizerem algo pra mudar a situação atual e pensar em como levar pessoas como eu para o espaço, quem o fará?’

Foi deste pensamento que nasceu o prêmio Ansari X-Prize, que em 2001, com o patrocínio da primeira candidata espacial Anousheh Ansari (ela foi a quarta turista espacial e a primeira mulher pela iniciativa privada) viabilizou uma concorrência entre 21 empresas espalhadas no campo aeroespacial. O resultado aconteceu em 2004,  com o primeiro voo de um astronauta pela iniciativa privada ao espaço, Mike Mevill em sua SpaceshipOne.

Marcos Palhares com Anousheh Ansari do Prêmio X-Prize

Marcos Palhares com Anousheh Ansari do Prêmio X-Prize

Foram 2 voos realizados a mais de 100km de altitude em 2 semanas, ao custo “irrisório” de 100mil dólares cada, nada comparado aos 1 bilhão para a decolagem dos ônibus espaciais americanos ou aos 60 milhões das espaçonaves russas. Se parou por ai? Bem, isso foi só o começo.

Burt Hutan, criador desta nave levou o prêmio de 10milhões de dólares, um importante incentivo naquele instante, mas que obviamente não cobriu suas despesas no desenvolvimento do projeto. Como mencionei, a roda da economia gira sozinha, e um novo bilionário apareceu: conhecido por sua irreverência, Sir.Richard Branson encontrou  Burt e encomendou mais duas espaçonaves ainda maiores, afim de criar a primeira compania espacial do mundo.

Desta vez, para levar turistas ao topo do planeta, a recém criada Virgin Galactic seguiu em frente com o projeto. Eu e meu sócio astronauta Marcos Pontes, endossamos com a representação no Brasil pela Agência Marcos Pontes – Aventuras para a vida. O novo vetor chamado “SpaceshipTwo” foi concebida com 6 lugares e deverá fazer em 2 anos o que a NASA não fez em 50. Já está previsto que levará mais de 700 pessoas ao espaço, entre elas, com a nossa sorte muitos brasileiros.

Os investimentos globais certamente colocaram a empresa Scalled Composities de propriedade de Burt em dia com as contas. A tendência, pela Lei de mercado, é que os tíquetes espaciais caiam de preço no decorrer do tempo. Estes turistas são pessoas extremamente bem informadas e empregam altas somas em dinheiro para que tudo dê certo, conscientes de seu papel para a mudança.  Eu mesmo fiz isso e acredito que será uma boa aposta. No médio prazo, os recursos empregados por este novo mercado de turistas espaciais vai ajudar na promoção de novos e inovadores dispositivos que tornarão a viagem ao espaço tão segura e comum quanto uma ponte aérea é nos dias atuais.

Uma revolução esta começando, e, acredite, você esta vivenciando este momento histórico sem se dar conta de seus efeitos!

Prova de que quando alguém aparece pra você e diz que “não pode”, “não deve”, “apenas  poucos privilegiados podem ir ao espaço”, desconsidere! O mercado certamente evoluirá, e você também poderá ser o cientista que salvará o planeta de um enorme surto e inventará a vacina milagrosa a partir de um ambiente de micro gravidade. Ou engenheiro, ou médico, quem sabe?

Ou você poderá ser também mais um que acreditou que era possível visitar o espaço, que sonhos servem para ser realizados e que por isso investiu recursos próprios para assistir literalmente “a melhor vista do mundo”, voltando de sua viagem ao espaço mais conectado com o universo e com os seres humanos, ciente que viveu uma vida completa e feliz. Afinal, como dizem os astronautas, “voltar do espaço trás experiências de um novo propósito de vida, pois é como voltar de uma outra dimensão.”

Foi graças a este espírito encorajador que o homem explorou do topo do mundo na Cordilheira do Himalaia ao fundo mais profundo, nas fossas Marianas. E é graças a livre iniciativa de mercado que hoje uma criança de 13 anos ganha um telescópio de presente e assiste com seus próprios olhos constelações fora de nosso sistema solar, às vezes descobrindo asteroides que não foram detectados pela NASA.

Quer algumas pessoas entendam que “não há nada para se fazer lá em cima”, ainda assim continuarão assistindo ao jogo de futebol ao vivo pela TV e utilizando o celular porque outras pessoas assumiram o risco de investir no espaço. Ao contrário do que a maioria das pessoas pensam, é do espaço que encontraremos as respostas para erradicar a fome, através de satélites que “encontram os locais certos para as plantações certas”, permitem previsões climáticas e previnem alterações no clima.

Por fim, é este espírito desbravador de alguns poucos que nos tornam seres únicos. Isso, talvez, salvará a espécie humana de sua própria extinção.

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