A visita do primeiro cosmonauta Yuri Gagarin ao Brasil

PRIMEIRO HOMEM NO ESPAÇO – YURI GAGARIN VISITOU O BRASIL

A visita do cosmonauta e primeiro homem a chegar ao espaço Yuri Gagarin ao Brasil, foi uma visita conturbada e quase terminou com um incidente diplomático por causa de um engraçadinho com uma atitude nada delicada.

No dia 12 de abril de 1961, o mundo ficava maravilhado com o feito da extinta União Soviética ao enviar para o espaço o primeiro ser humano, Yuri Gagarin. Logo após seu voo espacial na nave Vostok-1, o primeiro humano a ir para o espaço iniciou um tour pelo mundo, visitando vários países, como Polônia, Cuba, Finlândia e Inglaterra. Yuri Gagarin também visitou o Brasil na sua turnê mundial, mesmo o Brasil não tendo relações diplomáticas com a União Soviética naquela época, em 1961.

Infelizmente, o Brasil pouco preserva e não divulga estes fatos históricos. São poucas informações e raríssimas  fotos sobre esta viagem histórica. Agradeço ao amigo Marco Aurélio Esparza nesta importante contribuição.

Apesar de estar em época de Guerra Fria, o cosmonauta Yuri Gagarin foi chamado em todo o mundo de “Embaixador da Paz” e foi assim que chamaram Gagarin quando esteve no Brasil no final de julho ao início de agosto de 1961.

Uma calorosa recepção foi dada em todas as cidades que o cosmonauta visitou: Brasília, Rio de Janeiro, Niterói e São Paulo. Vamos ao resumo!

 

BRASÍLIA, 29 de Julho de 1961 – Sábado

O Ilyuschin-18 da Aeroflot pousou para reabastecer às 14h35 no Aeroporto de Brasília que estava em construção. A capital federal havia sido recém inaugurada em 21 de abril de 1960 e o avião estava vindo de Cuba. Durante o reabastecimento do Ilyuschin-IL18, Gagarin desceu da aeronave e seguiu para a estação de passageiros, onde era esperado pelas autoridades.

Teve uma recepção “calorosa” em Brasília, mas uma confusão relatada incluiu soldados da aeronáutica, que segundo a imprensa, deram socos e pontapés em jornalistas, na comitiva russa e até em políticos que se amontoavam no local.

Gagarin respondeu a algumas perguntas. Um jornalista perguntou-lhe ‘’o que achava da recém inaugurada Brasília vista do alto?’’ Vale lembrar que Yuri Gagarin nunca viu Brasília do espaço pois a nave Vostok 1 passou pelo extremo sul da América do Sul. Então afirmou que era uma cidade bela e sem paralelo no mundo que ele viu do avião.

Após uma hora, o cortejo levou o cosmonauta soviético para a pista, alguns jornalistas e fotógrafos se recusaram a tirar fotos, com as máquinas fotográficas no chão em repulsa aos incidentes.

Nesta mesma viagem, Yuri Gagarin iria voltar mais uma vez a Brasília para receber as homenagens e se encontrar com o Presidente Jânio Quadros.

 

RIO DE JANEIRO, 29 de Julho de 1961 – Sábado

Gagarin desembarca no Rio de Janeiro a noite, às 19h40 em um traje todo branco. Aeromoças o saúdam ao descer do avião carregando flores vermelhas.  O Governador, Carlos Lacerda não compareceu a recepção. Uma pequena multidão foi dispersa por jatos de água na ponte do Galeão e mesmo assim, não deteve as manifestações do povo, saudando Gagarin e gritando ‘’abaixo Carlos Lacerda’’.

A passagem de Gagarin pelo centro do Rio de Janeiro foi rápida, sem nenhum sinal ou ornamentação indicando que a comitiva soviética iria passar por ali, não demonstrando iniciativa oficial. Somente a TV Tupi repetia anunciando a presença em seus estúdios com flashes chamativos: ‘’Dentro em pouco, o homem da Vostok-1 estará entre nós.’’  Um grande reforço policial impedia a entrada de penetras na TV Tupi, somente pessoas com convites especiais tinham acesso. Mas Gagarin não foi a TV Tupi, deixando desapontados os convidados especiais, dentre eles Vinícius de Moraes, Zélia Gattai, Di Cavalcanti, entre outros. Não foi e ninguém avisou que não iria. Um mandachuva da comitiva soviética disse “niet” e fim de papo.

Gagarin foi para uma residência chamada de “Casa das Pedras” do deputado Draut Hermany, localizada na Gávea Pequena. Jantou e se recusou a receber os que compareceram na recepção, justificando que a recepção em Brasília fora por demais fervorosa e que queria descansar. O cosmonauta já sentia o quente e animado povo brasileiro. O médico soviético que acompanhou Gagarin durante a viagem, determinou oficialmente o descanso ao cosmonauta que andava com o fuso horário bagunçado.

 

RIO DE JANEIRO, 30 de Julho de 1961 – Domingo.

Gagarin teve a manhã de domingo livre, e participou de um almoço-feijoada oferecido em sua homenagem. Ficou na Casa das Pedras, enquanto os membros da comitiva passearam pelo Rio de Janeiro. Vários convidados que não conseguiram ver o cosmonauta na TV Tupi, conseguiram finalmente ver e conversar com ele.

O cosmonauta recebeu um beijo sorrindo, da jovem socialite carioca Sonja Gracie, com a imagem indo parar nos tabloides de fofocas (Yuri Gagarin era Casado e tinha 2 filhas). Sonja, quebrou sérios protocolos, mas mostrou sua admiração pelo herói com este beijo fraternal em seu rosto. Em Moscou, a atriz Gina Lollobrigida havia feito a mesma coisa e, na cidade de Londres, uma jovem inglesa conseguiu romper os cordões de isolamento para conseguir o feito.

Gagarin mostrou em gestos que via a Terra pela escotilha, e que era como do tamanho de uma bola de futebol (na verdade, a Terra observada de uma distância tão pequena no espaço não pode ser vista em sua totalidade).

O programa no Rio de Janeiro, foi por várias vezes modificado. Às 20h30, Gagarin foi jantar em Niterói no Clube de Regatas Icaraí.  Niterói era a capital do estado do Rio de Janeiro naquela época. Na entrada do clube, Yuri foi saudado por remos cruzados, fazendo guarda os musculosos remadores do clube.  Mas, um “engraçadinho” quase causou um incidente diplomático dando uma dedada no traseiro do baixinho cosmonauta. Gagarin deu um pulo de susto, olhou para trás, sendo ovacionado e aplaudido pelo público. Não ficou mais de 15 minutos no Clube Icaraí, mas na saída por motivo de preocupação o cosmonauta que não era bobo, colocou um segurança na sua retaguarda. Saiu com pastas em suas mãos, protegendo o traseiro e atrás dele vinha um segurança russo da KGB, de cabelo ruivo. O engraçadinho, chamado de Rubinho, novamente voltou a agir, não conseguindo atacar Yuri, atacou desta vez o segurança russo. No dia seguinte, Yuri Gagarin disse a imprensa:

“Os brasileiros são muito efusivos nas suas formas de extravasar a alegria”.

 

 

RIO DE JANEIRO, 31 de Julho de 1961 – Segunda-Feira

O programa oficial foi totalmente modificado por solicitação da delegação soviética. Sob a alegação que o cosmonauta estava cansado ao retornar ontem de Niterói, suspenderam o almoço oferecido pela revista O Cruzeiro, a visita ao Diário de Notícias, a conferência na Associação de Investigações Espaciais, a entrevista na TV Tupi e a demonstração da Escola de samba, Mangueira.

Pela manhã o Cadillac do Itamarati levou Yuri Gagarin ao Palácio da Guanabara, para ser recebido pelo Governador que fez várias perguntas. Carlos Lacerda, indagou Gagarin:

 – Está impressionado com o Rio de Janeiro?’

Gagarin disse que ‘teve ótima impressão’’ e em um momento de humor disse:

– Às vezes, é mais difícil enfrentar o Cosmos do que os fotógrafos.

Lacerda perguntou:

Quanto tempo foi a preparação para o voo?

Gagarin respondeu:

Mais de um ano na preparação direta e toda a minha vida na preparação física e psíquica.

Lacerda perguntou a Gagarin:

-Qual o tempo do voo espacial e se pretende fazer novos voos?

– O voo espacial foi de 1 hora e 48 minutos entre a subida e o pouso’’ – e disse que Sim, mas não desejava ser monopolista na experiência. Informou que na União Soviética existem muitos se preparando para esses voos, e que gostaria de retornar ao espaço algum dia, o que infelizmente sabemos que não aconteceu.

Lacerda perguntou:

Fez observações pessoais ou somente os aparelhos trouxeram informações do cosmo?

Disse Gagarin:

Observei a Terra e seus movimentos, os aparelhos trouxeram informações científicas.

A pergunta é feita por muitos e até hoje é uma interrogação.

– Acha que outros planetas são habitados? indagou Lacerda a Gagarin sobre a vida extraterrestre.

Gagarin respondeu que ‘’é difícil contestar isso. Breve, porém, os voos cósmicos poderão desvendar o mistério. ‘’

Com esta pergunta enigmática, foi terminado o encontro com Carlos Lacerda.

Gagarin voltou para a residência da Gávea Pequena para almoçar e descansar, e se preparar para a entrevista coletiva na Associação Brasileira de Imprensa (ABI).

Com o programa totalmente modificado, Gagarin foi convidado a visitar o Brasil em outra oportunidade, “com mais calma” disse o embaixador Ilmar Pena Marinho do Itamarati. Gagarin chegou duas horas antes do horário divulgado pelo Ministério do Exterior, e por isso sua passagem passou quase despercebida.

Na conversa com o embaixador, Gagarin disse acreditar na possibilidade da União soviética mandar um homem para a Lua e Marte (O que ainda não aconteceu). Yuri ficou menos quinze minutos no Itamarati, sendo cinco minutos dando autógrafos para os funcionários.

Ao sair do Itamarati foi para uma visita não oficial a embaixada da Polônia, onde teve uma conversa reservada e logo após, partiu para a Academia Brasileira de Letras (ABL).

Na Associação Brasileira de Imprensa (ABI), Yuri Gagarin disse que estava pronto para repetir a aventura, embora não seja monopolista. Respondeu 19 perguntas, fez algumas revelações sobre o voo espacial e considerou “a conquista do Cosmo, como uma vitória para toda a humanidade.” Disse acreditar na possibilidade da União Soviética estar na eminência de mandar um homem para a Lua e Marte. Vale lembrar que durante a Guerra Fria, o “Marketing Espacial” e a “Propaganda Política Soviética” era tudo.

Falou sobre Santos Dumont, tirou fotos com grãos de café e aproveitou para tomar um cafezinho brasileiro, um dos principais produtos exportados pelo Brasil na época. Perguntado se embarcaria em uma nave dos Estados Unidos, disse categoricamente: Niet (Não).

Na Academia Brasileira de Ciências, o cosmonauta respondeu as perguntas dos cientistas por 1 hora, mas sem entrar em detalhes do voo, somente explicou as sensações que teve.

Descansou no Rio de Janeiro, indo para São Paulo na manhã seguinte.

 

 

SÃO PAULO 1° de AGOSTO DE 1961 – Terça-feira.

A imprensa só falava na visita de Yuri Gagarin ao Brasil e os habitantes de São Paulo, organizaram uma recepção tão calorosa que segundo a opinião geral, superou a do Rio de Janeiro.

Gagarin desembarcou às 10 horas no Aeroporto de Congonhas, vestindo uma jaqueta verde-oliva e calça cinza, debaixo de aplausos, empurrões, e gritos dos admiradores.

Ganhou uma boneca de uma idosa russa, que ficou 3 dias a espera de Gagarin, que falou que a boneca era para suas duas filhas.

No ar ouvia-se a palavra “Ga-gá-rin”. Um dos repórteres de televisão não se cansava de falar ao microfone: “Este São Paulo nunca foi visto”, porque o carro seguiu do aeroporto até o Hotel Jaraguá e em todo o caminho havia uma parede humana.

Para travar o fluxo dos que desejavam ver Gagarin, a polícia foi obrigada a fechar todas as entradas e saídas do Hotel Jaraguá. De outra maneira como disse o comissário da polícia, o hotel será desfeito em pedaços e nada dele vai restar”.

Da janela do Hotel Jaraguá, Yuri Gagarin acenou sorrindo para as milhares de pessoas que estava no local para saudá-lo.

O Sindicato dos Jornalistas ofereceu um almoço no Othon Palace Hotel durante sua estada no 41ºandar do restaurante mais famoso da cidade naquela época, com vista para o Vale do Anhangabaú. Neil Armstrong, coincidentemente viria a hospedar-se neste Hotel alguns anos mais tarde, em 21 de Outubro de 1966, cerca de três anos antes de ir a Lua. Difícil imaginar que o Hotel que recebia celebridades do nível da rainha do Inglaterra naquele tempo,  viria a falir com dívidas astronômicas. Foi invadido por sem tetos, mendigos, desocupados e drogados durante vários anos. Diversos ítens históricos ficaram em estados lastimáveis, foram surrupiados, estragados e destruídos, sendo este edifício das celebridades quase renegado e implosão. Uma liminar da Justiça concedeu a reintegração de posse ao Estado e uma empresa de limpeza foi contratada para dar cabo a toneladas de lixo. Minha luta é preservar ítens históricos e quem sabe, um dia poderei comemorar feliz algum ítem recuperado destes tempos glórios.  Enfim, deste restaurante Yuri comeu com disposição Lagosta Vostok, Lombinho a Brasileira e Sorvete Gagarin. Bebeu duas taças de vinho nacional, mesmo com ar cansado e com a barba mal feita.

Recebeu vários presentes, incluindo uma Bíblia em russo e uma enorme pele de onça pintada, que ficou esquecida no evento.

Os jornalistas enviaram bilhetes com as perguntas e Gagarin respondeu:

1 – Disse que não voaria em um foguete yanque (Estados Unidos).

2 – A ciência da URSS está aparelhada de maneira a utilizar a sua experiência pessoal, que capitalizou para si na “Vostok” em outros astronautas.

3 – Por isso, provavelmente o próximo astronauta ao espaço não será ele.

4 – Ouviu milhares de perguntas nesta viagem de boa vontade e somente não respondeu uma pergunta por ser muito tola.

5 – Acha que para se conhecer e sentir um povo, é necessário caminhar pelas ruas, conversar com o povo, apertar as mãos e perguntar do que ele gosta.

6 – Estava imensamente satisfeito com a recepção que lhe deu o povo. Compreende os empurrões como prova de carinho e sente de não poder atender a todos e falar com todos.

7 – O fato dos primeiros lançamentos e experiências terem sido realizados por animais do sexo feminino (Cachorras, como a Laika), e o primeiro voo ter sido realizado por um homem é meramente acidental.

O sexo frágil não é tão frágil assim, embora não saiba se há mulheres sendo preparadas para voos idênticos ao seu, sabe que elas poderão conquistar também grandes alturas (Yuri fazia mais uma propaganda de marketing para o programa espacial soviético na época da Guerra Fria). Dois anos depois, a cosmonauta Valentina Tereshkova iria ao espaço como a primeira mulher.

8 – Comparando a Vostok com a atriz italiana Gina Lolobrigida:

’Acho que a Vostok é uma beleza de perfeição, mas não é um ser humano.’’

Após pegar vários pedaços de tecido azul, mostrou para os presentes as variações de azul que tinha visto.

Yuri Gagarin nunca falou: ‘’A Terra é Azul!’’

https://www.facebook.com/…/a.331943…/761015574077289/…

Agradeceu aos jornalistas e falou do pouco conhecimento que se há no Brasil sobre o povo da União Soviética, mas espera o reatamento de relações entre o Brasil e a União Soviética, para um maior conhecimento de parte a parte.

Protesto contra o DOPS:

O Presidente do Sindicato dos Jornalistas enviou um telegrama de repulsa aos acontecimentos na visita de Yuri Gagarin.

“Hoje houve um almoço, encontro com a imprensa paulista com o cosmonauta Gagarin, desenvolvido em alto nível, que honra a imprensa brasileira.

Cumprimos, entretanto o dever de comunicar a V. Exa. Que, nessa oportunidade, a única nota vergonhosa foi dada por policiais do DOPS que, “Sem Convite” invadiram o recinto, tomando os lugares à mesa, reservados a profissionais de imprensa em plena missão e comportando como indivíduos sem compostura, tendo agredido um cinegrafista.” Saudações: Evaldo Dantas Ferreira, Presidente.

Às 14.55 a comitiva soviética chegou ao Palácio dos Campos Elíseos (Antiga Sede do Governo do Estado de São Paulo), onde a população cercou o carro, provocando uma ligeira confusão. Yuri Gagarin encontrou com o Governador Carvalho Pinto e este fez várias perguntas a Gagarin, que respondeu seriamente.

Carvalho Pinto começou a conversa falando do Padre Bartolomeu de Gusmão “fomos os primeiros também nessa matéria ao conquistar os espaço aéreo em um balão mais leve que o ar. Dessa forma, há de compreender nossa admiração e o nosso entusiasmo pela proeza que realizou na conquista do espaço.’’

Gagarin respondeu que conhece a façanha de Santos Dumont. ‘’Estamos certos que os homens do Brasil se acham em condições de também oferecer sua contribuição nas pesquisas aeronáuticas.’’

Em seguida foi oferecido um café a Gagarin e o Governador perguntou ‘’se já se habituou com o nosso café?’’ Sim respondeu Gagarin, é muito bom.

– Qual foi a sensação ao ver a Terra a distância?

Respondeu Gagarin:

A emoção é muito grande, pois a Terra tem uma vista linda de tal altura.

Pode se supor que não se distinguem os mares e as montanhas, mas o fato é que são vistos perfeitamente os oceanos e as grandes montanhas da Terra. O Governador perguntou se viu os astros? Sim, respondeu Gagarin.

Perguntando a Gagarin se ‘’os conhecimentos técnicos obtidos na primeira viagem espacial, poderia-se prever uma viagem a Lua?’’

Gagarin disse que ‘’apesar das dificuldades em prever a data exata, o voo à Lua poderá ser realizado dentro de cinco anos ou talvez menos’’ (o que nunca aconteceu com naves tripuladas soviéticas). O Governador comentou “Então já podem ser abertas as inscrições para a viagem” referindo-se aos assédios da reportagem e populares. Observou:

– Tenho a impressão que a resistência física do Major foi posta mais a prova nessas recepções, que na viagem ao espaço.

– Dá! (Sim) Gagarin sorriu e apontou para a imprensa.

Durante a entrevista, os dirigentes da Sociedade Interplanetária Brasileira solicitaram ao Governador, que entregasse ao herói um título de sócio benemérito da entidade.

Yuri posou para a imprensa junto a Estátua de Ícaro, no Campo de Bagatelle, próximo do Aeroporto de Marte, contendo a inscrição: A conquista do Ar. Naquela época, a região norte da cidade de São Paulo começava a ser urbanizada.

À noite no Estádio do Ibirapuera o cosmonauta encontrou com os habitantes da cidade de São Paulo. Nesse encontro, Gagarin foi saudado pelo presidente do Instituto de Aeronáutica Flávio Pereira. Em nome do instituto, o prefeito da cidade Prestes Maia condecorou Gagarin com o diploma e a medalha Pioneiro do Cosmos.

Gagarin viu várias faixas de saudação em russo e português, sendo saudado por 2000 vozes com o grito Ga-ga-rin. Yuri fez uma palestra de improviso, descrevendo os preparativos, as etapas, subida, entrada em órbita e o retorno. Disse:

Lá em cima é que se vê como a Terra é pequena e bonita. O cosmo é grande e lá há lugar para todas as nações. A competição espacial, como a entendemos é uma competição pacífica e deve reunir todos os povos.

Também o Brasil deve impulsionar a astronáutica para reivindicar no cosmo o seu espaço.

Com esta frase, Gagarin foi muito aplaudido pelos presentes.

Na palestra, nada foi acrescentado ao que já era conhecido sobre o voo espacial. Gagarin afirmou estar sempre bem durante todo o voo e que manteve contato constante com a Terra. Comentou que não havia na cápsula armamento nem máquina fotográfica (uma câmera de vídeo registrava as reações de Gagarin).

Sobre a vista da Terra, disse quando ficou silencioso, em órbita, identificou primeiro a Sibéria. Afirmou que controlou o funcionamento dos aparelhos (o que não foi verdade ou foi mal interpretado, já que o cosmonauta não tinha nenhum método de pilotagem da Vostok-1, somente emergências).

Na descida a temperatura externa provocada pelo atrito com a atmosfera não afetou as condições internas da cápsula que estava devidamente protegida. Yuri Gagarin desceu de paraquedas entre as cidades de Saraton e Engels, a dois quilômetros do ponto previsto (Gagarin na verdade, não pousou a bordo da capsula Vostok 1, foi lançado por explosivos para fora da nave e pousou de paraquedas).

Disse que em seguida haverá novos voos espaciais. Para ser considerado um voo espacial, a Federação Aeronáutica Internacional (FAI) exigia que a pessoa tinha que pousar com a nave. Somente anos depois foi revelado que Gagarin não pousou com a nave! Mas, a história estava escrita e o voo espacial foi homologado, mesmo com este pequeno detalhe desimportante.

‘’Queremos voar mais e mais. O Cosmo é muito grande, esperamos que os brasileiros possam dar a sua contribuição.’’ Seguindo ao costume de seu país, agradecia batendo palmas também aos aplausos dos brasileiros. Recebeu vários presentes no Estádio do Ibirapuera; um relógio Sputinik, um autoretrato iluminado, um retrato a óleo de sua filha, discos e mimos.

 Ao contrário do que ocorreu em sua chegada a São Paulo, o embarque de Gagarin para retornar a Brasília foi mais tranquilo. Gagarin encaminhou-se ao avião Ilyushim IL-18, acenando para os populares.

“Felicidades” dizia em português. Cumprimentou o Governador e foi dormir, para na manhã seguinte voltar novamente para Brasília.

São Paulo somente iria parar novamente para receber um outro herói na triste quarta-feira, 4 de maio de 1994, quando o corpo de Ayrton Senna chegou em São Paulo.

 

BRASÍLIA 2 DE AGOSTO DE 1961 – Quarta-feira.

Gagarin retorna novamente a Brasília, chegando na Capital Federal às 11h40.

Após o almoço, deu umas voltas pela cidade e foi ao Ministério da Aeronáutica e ao Palácio do Planalto, entregar a mensagem de Kruchev e receber a Ordem do Mérito Aeronáutico. Negou autógrafos e deu duas entrevistas coletivas curtas de 15 minutos, mas bem humoradas: na do Ministério da Aeronáutica, um oficial fez uma ressalva ‘’Nada de perguntas ideológicas,’’ advertiu o oficial da Força Aérea Brasileira (FAB) por causa dos divergentes regimes políticos da época. No Palácio do Planalto, as perguntas foram livres e formuladas na hora.

Gagarin foi condecorado às 18.00 horas, pelo Presidente Jânio Quadros no terceiro andar do Palácio do Planalto. Yuri recebeu do Presidente Jânio Quadros a Ordem do Cruzeiro do Sul, a mais alta honraria nacional. O presidente Jânio Quadros estava trajando “Slack”. Ambos saíram do gabinete, onde Gagarin entregou a mensagem de Kruchev, um livro de sua autoria “Caminho para as Estrelas” e uma foto sua autografada. Um livro igual esteve no espaço em 2015, com o primeiro astronauta britânico, Tim Peake.

A mensagem de Nikita Kruchev foi uma tentativa de reaproximação diplomática entre os dois países. Alas conservadoras não gostaram da reaproximação do Governo Brasileiro com os comunistas soviéticos. Mal sabiam que, duas semanas depois, o condecorado seria o sanguinário matador, Che Guevara!

É notável que logo após, em 31 de novembro daquele mesmo ano de 1961, as relações diplomáticas entre a União Soviética e o Brasil seriam restabelecidas, um feito que muito provavelmente tenha sido favorecido de forma considerável pela visita de Yuri Gagarin ao Brasil. Um detalhe, Jânio renunciou sem aviso no dia 25 de agosto de 1961, colocando o Brasil em uma conturbada situação política, sendo adotado o parlamentarismo como uma proposta conciliatória para a crise civil-militar.

Yuri Gagarin partiu para o Canadá, e encerrou a turnê mundial em 27 de Agosto de 1961 na Hungria. O Brasil nunca mais iria ver o primeiro ser humano que foi ao espaço. Gagarin, por ter se tornado uma celebridade, foi proibido de voltar ao espaço em agosto de 1967, uma vez que se tornou uma peça importante para a propaganda da União Soviética e da ideologia socialista e comunista. As autoridades soviéticas tinham receio de colocar sua vida em risco.

Não podendo voltar ao espaço, participou ativamente no treino de outros cosmonautas soviéticos. Depois de vários anos dedicados apenas ao programa espacial soviético, Gagarin voltou ao curso de treino de pilotos, para uma requalificação como piloto de caça nos novos caças MIG da Força Aérea.

Yuri ‘’partiu para as estrelas’’ (faleceu) com 34 anos de idade, no dia 27 de março de 1968 quando estava em treinamento em um caça MiG-15 que colidiu com o solo durante manobras audaciosas. Faleceu também o instrutor de voo Vladimir Seryogin no acidente.

A casa onde nasceu Yuri Gagarin, hoje é o Museu Gagarin em sua cidade natal e que leva o seu nome na Rússia.

https://www.facebook.com/…/a.219502…/262851407382073/…

Yuri Gagarin teve o seu nome escrito em uma placa, junto com outros que caíram na tentativa de chegar ao espaço quando o ser humano chegou na Lua, em 20 de julho de 1969, com a Apollo 11.

 

A Resolução A/RES/65/271 de 7 de abril de 2011

A Assembleia Geral da ONU (Organizações das Nações Unidas) em 2011, nas comemorações dos 50 anos do voo histórico, declarou o dia 12 de abril como o Dia Internacional do voo espacial humano (International Day of Human Space Flight), para celebrar o início da era espacial para a humanidade, reafirmar a importância desta contribuição para a ciência e a tecnologia na realização dos objetivos de desenvolvimento sustentável e aumentar o bem estar dos países e seus povos, bem como assegurar a realização de suas aspirações para manter o espaço exterior para fins pacíficos.

Todo dia 12 de abril é celebrado uma festa, a Yuri’s Night, pela Comunidade Astronômica em homenagem ao primeiro voo espacial.

Postagens Recentes

Deixe um Comentário

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.

Comece a digitar e pressione Enter para pesquisar