Explorando Machu Picchu

A viagem para Machu Picchu começa na cidade histórica de Cusco, com suas construções em estilo colonial espanhol, suas coloridas feiras de rua com gente pra todo lado, de onde se encontram tapeçarias, peles de lhama, todo tipo de vestuário em lã, até pedras preciosas, enfeites e mortuários incas, pequenas estatuetas indígenas e muita comida exótica e variada.

Um  povo que mantém legitimamente seu legado inca, com suas danças folclóricas nas praças, sua divertida forma de se comunicar, sempre querendo empurrar algo para os turistas recém chegados, dispostos a barganhar até o fim. São pequeninos na estatura e habilidosos no artesanato, o rosto sempre moreno e os olhos levemente puxados, quase sempre usam chapéu e carregam uma criança no lombo, envolta em uma malha que rodeia as costas. Eles formam aglomerados e caminham pelo centro buscando seu sustento, principalmente na região do mercado municipal, onde pode-se encontrar de tudo: a coca-cola por aqui, chama-se inka-cola, uma bebida amarelada e doce como a nossa groselha, e que alguns turistas dizem parecer xixi de lhama, na verdade é a bebida mais popular da região. O cui, um prato típico, pode assustar o turista mais desavisado, lembra uma ratazana, frita e depois cozida em forno a lenha, vem com o corpo inteiro e é possível ver seu focinho com os dentes de fora, uma iguaria muito apreciada e que para o povo local trata-se apenas de mais um grande roedor do deserto, não um rato, pois a estatura é realmente maior. Quase todos criam em suas casas como a um animal doméstico e muito popular. E as curiosidades aparecem a cada passo, como a folha de coca, que possue efeitos terapêuticos para aqueles que sofrem do mal da altitude, mas que para mim, não precisei fazer uso. Verdade, Cusco está a cerca de 2.500 metros acima do mar, Machu Picchu chega a 3mil, nestas condições o ar encontra-se em menor quantidade e os efeitos variam de pessoa pra pessoa: de uma simples e chata dor de cabeça, até o aumento da pressão sanguínea, que busca reparar a falta de oxigênio no sangue. Algumas pessoas tem dificuldade no raciocínio, outras tem dificuldade na locomoção e muitas vezes as duas opções vem combinadas com a dor de cabeça e enjoo. Aí o sujeito é obrigado a sentar, beber muita água, respirar fundo e mastigar algumas folhas…no Brasil damos chicletes as crianças para destampar o ouvido e por aqui é mais ou menos a mesma coisa com a folha de coca, com a diferença que você não vai poder carrega-las na sua mochila de volta, pois a polícia federal em nosso aeroporto pode condená-lo por tráfego de entorpecentes e levá-lo a cadeia.

Em Cusco fiquei no Hotel Monastério, bem de frente ao mercado municipal, e como o próprio nome diz, era o local de moradia de monges que viveram nesta região por séculos, atualmente sobraram um pequeno punhado de freiras que dividem suas residências com os turistas mais ecléticos como eu. Vale pela nostalgia de estar em um lugar abençoado, com jardins bem cuidados e uma estatueta da virgem Maria ao centro, tudo isso por um preço honesto e um belo café da manhã ao ar livre.

Partimos então em taxi para a cidade de Olataytambo, uma viagem de cerca de 1 hora com carro rateado por 5, deste modo custando o mesmo que uma viagem de ônibus, somente 15 soles de oro peruanos. Esta cidade contém ruinas incas na forma de imensos paredões de encosta pelas montanhas, uma conservada prova da agricultura avançada inca e a subida para conhecer de perto pode ser cansativa. De lá, pegamos o trem até a cidade de Aguas Calientes, a cidade mais próxima do último refúgio inca, cerca de 1,5 horas de distância. A estação de trem foi reformada, e os trens vão dos mais simples aos mais luxuosos: você pode optar em pegar um trem padrão e viajar de pé e espremido na multidão trabalhadora, pode escolher um “dome “ e viajar em um trem confortável com mesas para um rápido almoço, com janela panorâmica e bom conforto, ou pode ainda escolher a categoria superior, este sim, com direito a um cardápio refinado, taças de vinho, cortinas ricamente desenhadas, tapetes, sedas e muitos mimos. Eu optei pelo Dome e fiquei bem satisfeito. O trajeto é lindo, permeando rios e florestas tropicais da região, algumas vezes atravessando tuneis entre as montanhas, é possível ver lhamas soltas em seu habitat. Fazer o percurso de trem é parte obrigatória do roteiro.

Na chegada a Aguas Calientes, hospedei-me em um dos hotéis incrustados entre as montanhas, e são muitas as opções. De lá, ainda é  necessário pagar 25 dólares para um ônibus que fará uma viagem de subida íngreme por 30 minutos até o pico da montanha, onde finalmente se tem acesso ao parque protegido de Machu Picchu. Este caminho também é mais uma aventura imperdível, com suas estradas de terra estreitas entre os penhascos e uma vista de tirar o fôlego!

Então…finalmente Machu Picchu!

É aqui o local emblemático de uma civilização que dominava a América do Sul da atual Colômbia ao Chile, durante muitos séculos até a chegada dos espanhóis. Minha primeira visão foi inesquecível, tínha passado vários dias de chuva intensa e incessante, quando cheguei tudo parou. Olhei então para os picos nublados entre as montanhas, as nuvens simplesmente avançaram rapidamente como uma cortina para o vale, revelando então aquele visual incrível de construções fortificadas em pedra sobre o desfiladeiro. Alí estava a cidade perdida, revelando-se para mim…foi um momento mágico!

Avancei para sentir cada pedra, conhecer cada corredor, vislumbrar cada paisagem e imaginar como poderia ser viver ali 500 anos atrás. Os incas tinham habilidades inigualáveis nas técnicas de construção, com pedras meticulosamente esculpidas e encaixadas por um fio de cabelo. É estonteante imaginar como transportavam tantas pedras de alta tonelagem por aquelas encostas íngremes e perigosas sem o uso da roda, um trabalho digno de respeito e admiração. São templos religiosos, astronômicos, santuários, redes de cultivo, praças e casas, muitas casas. Uma cidade esculpida sobre uma montanha sagrada! A vida isolada e tranquila que manteve o povo inca por aqui será sempre cheia de mistério.

Peguei carona em uma trilha inca com destino ao pico da montanha Waynapicchu, de onde se tem a mais bela visão de toda histórica Machu Picchu. Mas para se chegar lá, obra de guerreiros! Subindo-se a pé, pisando sobre cada degrau de pedra do minúsculo pé inca, foram 1 hora de subida íngreme, penhascos, cavernas e muitas picadas de borrachudos. O cansaço literalmente transborda a todos que enfrentam o percurso, já que o calor e a altitude combinados formam uma fórmula avassaladora. Após todo o esforço, vem a compensação. Aqui são 3,2mil metros de altitude de pura paisagem zen: muita natureza, nuvens e o Vale sagrado. Vale o esforço.  A volta é tão perigosa quanto a ida, não se recomenda o percurso com chuva. Mas para mim, toda a viagem foi uma benção.

Ao me despedir de Machu Picchu, virei para se ter uma última visão do todo e outra nuvem sorrateira encabeçou de cobrir a montanha, fazendo a cidade perdida desaparecer tão qual a mágica da revelação. Parece que é assim que funciona, Machu Picchu deve permanecer no campo das nuvens, onde rondam os sonhos mais queridos de nossa imaginação.

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