Voando em um caça supersônico pela Estratosfera

“Mach 0.7, Mach 0.8, Mach 0.9, Mach 1.0…  Quebramos a barreira do som!

 

E dentro da cabine, nada se ouvia. Nisso, a velocidade já beirava 2.000 km/h, assim como a altura crescia. 15 mil metros, 18 mil metros, 21 mil metros. O céu já não existia mais. Era tudo negro e vazio.  Marcos estava viajando pela estratosfera . Alguns minutos se passaram para que ele entendesse tudo o que estava acontecendo. Parecia algo surreal, a mistura do sonho realizado com a imagem diante dos olhos,  algo indescritível e visto por poucas pessoas. O piloto Yuri fez uma manobra e colocou o caça de ponta cabeça, para que Marcos pudesse saldar os continentes. Yuri  não poupou o belo aparelho, mergulhando o caça de bico em direção à terra sem nenhuma cerimônia.

Quantos aqui, lendo esse texto, podem dizer que já realizaram um grande sonho? Algo que ansiaram por anos, sonharam, planejaram, desejaram ardentemente, investiram tempo, dinheiro e trabalho, para que fosse realizado? Marcos Palhares é uma pessoa que pode dizer com toda a certeza “Eu realizei o meu sonho”.

Marcos nasceu em 1973, no centenário do nascimento do patrono da aviação, Alberto Santos Dumont. Desde pequeno,  amava a aviação de caça, queria ser piloto, colecionava miniaturas, leu muitos livros, ficou amigo de pilotos, assistia videos e trocava informações com outros amantes da atividade.  Mas, como o destino às vezes leva pra outros caminhos, Marcos acabou se tornando um empresário no ramo de publicidade, com uma vida repleta de tarefas e compromissos.

Mas este sonho nunca se apagou da sua memória. Após 20 anos economizando e planejando, ele embarcou em direção à pequena cidade de Novgorod, no interior da Rússia, para voar num supersônico MIG-29, um dos melhores e mais potentes caças do mundo.

Vinte e cinco horas depois de embarcar em Guarulhos, com uma conexão na Alemanha, Marcos chegou a tal cidade russa. Aqui começou sua aventura, que mobilizou mais de 100 pessoas, entre pessoal técnico,  de manutenção,  equipe de torre, médicos,  staff administrativo e de apoio.  O dia começou com um carro da base aérea buscando Marcos no hotel.  Acompanhados de intérprete, com todos os seus passos sendo registrados através de câmeras fotográficas e filmadoras, Marcos encontra seu piloto russo, Yuri.  Saca do bolso desenhos e anotações sobre manobras, por tanto tempo acalentadas. O piloto Yuri lhe assegura que todas serão possíveis de serem feitas. Marcos sorri. Monta-se um briefing de voo: decidiram que primeiramente subiriam a 21 mil metros de altura,  em plena estratosfera, e depois fariam todas as manobras previstas, como loopings, curvas fechadas, voo invertido, queda livre, rolls e muitas outras .

Próximo passo: exame médico. Luz vermelha acesa: a médica russa que o examina exclama: “Marcos! Seus batimentos cardíacos estão a 154 por minuto! Desse jeito você não pode voar!”. Após o breve “susto”, a médica aconselhou Marcos a acalmar seu entusiasmo e pensar em outra coisa. De pé, olhando para a parede branca, funcionou.

Hora de vestir o traje de piloto de caça. Ele é anti-G e muito pesado. Marcos compara a roupa a um espartilho masculino, mas era esse “espartilho” cheio de curvas e com formatos bizarros, com alguns tubos, que impediria que o sangue descesse da cabeça para os pés em determinadas manobras, causando desmaios.

Depois da roupa, era a vez das botas, duras e fortes o suficientes para um pouso forçado de paraquedas, evitando fraturas.  Por fim, a máscara de oxigênio, cuja utilização exigiu um treinamento especial.  Seu uso era vital em alta altitude, pois em caso de despresurização, o sangue “ferveria” causando uma tragédia em segundos.

Hora de ser levado à pista e ao caça no qual voaria.  O MIG-29 era tudo o que Marcos esperava e sonhava. Lembrou-se de quando viu a foto deste avião pela primeira vez: em preto e branco em uma revista importada, em plena época da guerra fria, uma revista especializada identificava apenas como um “super caça russo desconhecido” e que atravessou a fronteira aérea pela Finlândia, deixando-se fotografar…mal podia conter a emoção de ver aquele “avião secreto”  todo imponente à sua frente, pronto para seu voo…como poderia imaginar que isso aconteceria um dia?

O piloto Yuri realizou a ronda de checagem do aparelho, convidando Marcos para acompanhá-lo. Explicou todos os detalhes do caça, a função dos flaps, a turbina, onde ficava o radar, as grandes entradas de ar do motor e a curiosa entrada auxiliar, que torna este avião um dos poucos aviões no mundo com capacidade para operar à partir de pistas improvisadas e “sujas”.

Após o check, instruiu Marcos a subir no cockpit, onde uma equipe já o aguardava para “plugá-lo” ao aparelho, tornando ambos um ser único.  Então  Yuri deu uma rápida aula sobre o manche que estaria disponível para pilotagem por alguns minutos, os instrumentos de bordo e até os botões de disparadores de armamentos!

Todo preparado, a cabine do avião desce, um casulo de vidro com ampla visão de voo, e o piloto russo liga os motores.  Um grito agudo e logo seguido de um rugido poderoso e abafado, a potência dos motores marcava presença e ampliava a sensação de que algo muito incrível estava prestes a acontecer. Permissão da torre, Yuri acelera o caça até 400km/h e decola num ângulo de 90 graus, como um foguete! Era o início do treinamento simulado para o voo suborbital, com uma força G agindo diretamente sobre o capacete de Marcos e amassando-o sobre o assento. A manobra continua com vários giros em parafuso. Apesar da tortura, apenas a máscara de oxigênio escondia o sorriso de Marcos. Quando estavam a  200 km de distância da base Marcos ouviu o piloto dizer : “Marcos, vamos quebrar a barreira do som. Atenção no painel!”. O painel começou a mostrar o aumento da velocidade, enquanto Yuri dizia:

 

“Mach 0.7, Mach 0.8, Mach 0.9, Mach 1.0.  Quebramos a barreira do som!

 

E em poucos segundos, Marcos estava na estratosfera…uma verdadeira surpresa constatar o céu negro acima de sua cabeça e ao lado, a curvatura fina e delicada em tom azul brilhante de nossa atmosfera. Marcos brinca com a imagem: “isso é real?” O sol brilhava naquela imensidão escura e infinita, algo que definitivamente surpreenderia os olhos de qualquer um.

Paz.

Silêncio.

Como a Terra é bonita…e como somos tão pequenos!

Sonhos que não desaparecerão…

Depois da subida à estratosfera, de ver a curvatura da terra, e após o mergulho em parafuso, quase chegando aos 5 mil metros de altura, o show de manobras no Mig-29 começou:  loopings,  vôo invertido, vôo de lado,  rasantes, curvas e mais curvas. “Oh, curvas!”  Para Marcos, o pior de tudo eram as curvas. A energia do movimento é enorme, e a força G esmagadora, comparada por Marcos a um King Kong  sentando sobre sua cabeça. Muita dor, principalmente dos ouvidos – como fazer a compressão sem tirar a máscara de oxigênio?

Graças às filmagens de todo o voo, do solo e dentro da cabine, Marcos pode depois perceber que perdeu a consciência por instantes em vários momentos, tamanha a aceleração e forcas  gravitacionais aplicadas sobre seu corpo. Não é nada fácil ser piloto de caça!

Um rasante a menos de 15 metros do solo a  900km/h e tudo parecia um túnel…

Após uma hora de vôo e inúmeras manobras, que fazem perder a noção de tempo, o caça pousa, e foi aí que Marcos se deu conta da energia intensa do passeio. “Você sai acabado, encharcado de suor e a coluna é muito exigida”, diz Marcos. Todo esse suor é resultado da bravata do passeio. Mas o sonho foi alcançado.

A experiência é coroada com a entrega de um certificado, com o relatório do voo, e a descrição de todas as manobras que foram feitas, incluindo Marcos num seleto grupo de pessoas que voaram a 21 mil metros de altura, viram a curvatura da terra e quebraram a barreira do som, a uma velocidade de 2.000 km/h.

Marcos Palhares abriu uma sociedade com o astronauta brasileiro Marcos Pontes. Eles criaram a Agencia Marcos Pontes Turismo de Aventuras. Juntos, levam outros aficcionados por aviação de caça a viver emoções intensas em Migs e outros aviões de caça ao redor do mundo.

Cada um tem um sonho, grande como o de Marcos, mas sempre especial. Todos podem correr atrás de seus sonhos: basta acreditar e persistir. Segundo Marcos, é preciso focar, planejar, trabalhar duro e correr atrás. Quanto maior o sonho, maior deverá ser sua dedicação.

 

Nada é impossível e no caso do Marcos, o céu não é o limite!

 

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Mostrando 3 comentários
  • Domingos Torres
    Responder

    Caro Palhares. Você diz que não entende a lógica do terraplanista. Na verdade eu não entendo ou pelo menos não entendia a dificuldade que vocês tem em assumir que não tem curvatura alguma do cockpit. Pois se houvesse curvatura, seria visível apenas em 2 mil KM de altitude, segundo o próprio google earth. E também me questiono como a NASA precisa fraudar uma transmissão ao vivo. E também me questiono como poderiam então deixar aberto no site da NASA projetos aonde está explícito que “The method is limited to application where a flat, nonrotating earth may be assumed.”

    Você foi até a 51. Eu fui atrás do engenheiro que escreveu este projeto. Ele não negou o que escreveu. Fiz até vídeo sobre isso.

    E para finalizar, respeitando e parabenizando pelo seu sonho realizado, desafio que me mostre alguma utilidade dentro da ciência para o modelo globo. Não vale citar papelaria.

    Fiquei a vontade para escrever, pois você é pessoa confiável. Gosto do debate. Gosto de ouvir.

    Grato

    Links

    https://www.youtube.com/watch?v=c07ietVI2To
    https://youtu.be/eNbLlEl27_Q
    https://ntrs.nasa.gov/archive/nasa/casi.ntrs.nasa.gov/19720012071.pdf

  • elias
    Responder

    Como seria possível alguma coisa passar pela estratosfera da terra?

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