Uma história de perseverança com Wally Funk

Em 2013 estava em Mojave, um local no norte da Califórnia e junto a Nevada, e que ficou conhecido como um centro tecnológico de várias pequenas startups do mundo espacial. Entre elas, a Scaled Composities, do visionário designer de aviões e foguetes, Burt Rutan, que levou ao espaço a Spaceship One em 2004 vencedor do prêmio Ansari X-Prize. Logo ali ao lado fica também a The Space Company, a fábrica da frota de espaçonaves Unity e Imagine, empreendimento do fundador da Virgin Galactic, Richard Branson.

Neste dia em especial, Richard resolveu realizar uma de suas mega festas, incluindo todos futuros astronautas e investidores de sua compania espacial. Haveria um almoço, apresentações de palco e da equipe de engenheiros, discurso do Richard além da apresentação pública da VSS-Enterprise, sua primeira nave espacial.

Foi neste dia, estava sentado em uma das mesas circulares do evento quando uma senhora se aproximou de mim com toda a intimidade e logo se apresentou: era Wally Funk.

-Wally who? – indaguei curioso.

Eu não fazia a menor ideia de quem ela era. Mas ela percebeu meu crachá azul pendurado no pescoço com o símbolo da Virgin Galactic e sabia que este era o crachá reservado aos futuros astronautas. Então ela puxou conversa toda animada e sorridente:

– Então você vai ao espaço? Eu também vou…algum dia. Fui aspirante no Projeto Mercury, mas a NASA não queria mulheres naquela época. Eram outros tempos…mas eu vou chegar lá, vou estar na janelinha dessa nave espacial aqui, você vai ver!

E eu que sempre fui muito cordial e tenho verdadeiro carinho com pessoas de idade, ainda mais com toda aquela energia e vibração  que ela tinha na conversa, olhos brilhando e entusiasmo na voz, adorei a confiança que ela tinha de algum dia subir ao espaço. É sempre rejovenecedor assistir pessoas de idade com sonhos grandiosos como os dela. Logo, segui sua animação e pedi pra ela assinar um autógrafo para guardar comigo, no dia que ela ficasse famosa eu teria uma relíquia, brinquei. E assim ela o fez, procurou em sua bolsa uma foto com uniforme espacial e seguiu escrevendo alguns dizeres incentivadores pra mim, com uma caneta que mal riscava a tinta no papel.

-Vou aguardar seu voo! – explanei segurando para o alto a foto dela e apontando para seu coração.

Ela ficou muito feliz e respondeu:

– Me aguarde! – riu.

E foi este o meu breve encontro com a Wally, uma senhora septuagenária muito feliz e radiante, sem dúvida. No meu íntimo, porém, estava com dó. Ela não tinha nenhum crachá como o meu, e naquele evento ela podia ser apenas mais alguma maluca em busca de atenção sobre algo que nunca conseguiria. Mesmo assim, guardei aquela lembrança da Wally, que apareceu com seu sorriso largo para alegrar meu dia.

Nem preciso dizer que os anos se passaram, 7 anos para ser preciso. E um dia, eu estava a frente da televisão assistindo ao noticiário, e lá estava o cara mais rico do planeta convidando Wally Funk para embarcar em sua espaçonave, para realizar o voo inaugural tripulado da Blue Origin…

O meu coração transbordou de alegria em assistir aquela cena, porque eu sabia mais que ninguém aqui no Brasil o quanto aquela lutadora deve ter trabalhado para que este dia chegasse. Persistência, determinação e muita, muita paciência. E ela chegou lá, caminhando pelo tapete vermelho dos voos, no dia 20 de Julho de 2021, data histórica em comemoração do pouso do homem na Lua, Wally Funk subiu aos céus para tocar as estrelas, com direito a cobertura mundial da televisão…

Parabéns Wally! Mais um grande exemplo do que significa ”acreditar nos sonhos”!

Wally, o Universo é seu! Abrace-o!

 

 

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