O LIVRO DE GAGARIN E NEIL ARMSTRONG
O LIVRO DE GAGARIN E NEIL ARMSTRONG
Salvei um livro com o autógrafo de Gagarin e de Neil Armstrong do destino de milhões de documentos históricos em nosso país: Salvei do lixo!
Como um dos raros pesquisadores e historiadores da atividade aeroespacial no Brasil, tive, por mais de 15 anos, atuando como arqueólogo de peças históricas que na maioria das vezes encontravam-se esquecidas em velhas caixas de papelão, estoques abandonados, armários escuros e até nos locais mais bizarros, como uma caçamba de lixo. Pois é, este livro, único no mundo, me chegou as mãos de maneira singular, por um catador de lixo. Se você ler esta história até o fim, poderá achar que é obra de ficção, mas não é, embora de ficção eu entenda bastante. Não só escolhi chegar ao espaço como um dos pioneiros neste novo negócio no Brasil, mas fui escolhido pela pela têmpera do destino, fazendo minha parte, persistentemente como tudo que faço na vida. Mas isto é assunto para outro momento.
Voltando a história do livro de autoridades de um Hotel falido, com o autógrafo de pessoas que igualmente, quer por sua posição social (reis, rainhas e princesas), quer pelo seu trabalho significativo (cantores, apresentadores, artistas, dançarinos) ou pela sua atuação na área pública (Presidentes, Ministros e afins), o que eu sabia era que os astronautas que eu tanto procurava para minha coleção de autógrafos raros estiveram no Brasil 60 anos atrás. Eu já estava cansado de procurar algum material importante em leilões onde os valores disparavam e nem sempre eu tinha a garantia da autenticidade dos mesmos. Um importante site norte americano, o Heritage, por exemplo, realizava uma vez ao ano um leilão de artigos que estavam na mão de familiares destes astronautas, e que, por alguma razão nem sempre clara, estavam dispostos a se desfazer destes itens históricos. Mas estes itens eram sempre um belo chamariz para a ilusão, que na prática, saiam de valores acessíveis a valores estratosféricos. E a bem da verdade, eu não estava nem aí pelo valor financeiro, e sim pelo valor inestimável de ter em mãos algo que foi tocado, segurado, assinado por alguém que representou um ‘’divisor de águas’’ na história da civilização. E a história que existe por trás da história é sempre emocionante se bem contada, então aí vai como tudo aconteceu:
A prefeitura de São Paulo havia conquistado a duras penas o direito de propriedade no edifício sob falência de um famoso Hotel, que certamente tinha dívidas imensas com o herário público. O Hotel que foi considerado nos anos 1960 o mais luxuoso da cidade, no Vale do Anhangabaú, centro de São Paulo, foi abandonado a espera das decisões da justiça em 2008. Invadido por dezenas de famílias ‘’sem teto’’, que ocupando a propriedade, deram início a sua completa descaracterização imobiliária: muitos móveis históricos foram perdidos, danificados ou destruídos. O elevador, sem manutenção e capacidade de uso, virou poço de lixo e proliferador de ratos. Móveis depredados, sujeira por todo canto. Tapetes por onde pisou a rainha Elizabeth da Inglaterra, completamente rasgados e imundos por fezes. O local sem lâmpadas e luz, tinha baratas por todas as paredes e era comum ver-se afugentá-las pelo brilho de cachimbos de viciados, aqui e acolá naquele lugar fantasmagórico. Este era o estado do edifício assim que veio a ordem oficial de desocupação vencida na justiça pela Prefeitura de SP em 2011, que então tornara-se a nova proprietária legal do imóvel. Mas os estudos para se retirar as famílias acentadas, mais a reforma para a inclusão dos gabinetes só se consolidou em 2018 quando então foi formalmente entregue. Para isso, uma empresa foi contratada para retirar algo como 30 toneladas de lixo, compostos por materiais de escritório, mesas, cadeiras, camas, aparelhos antigos de ar-condicionado e todos os itens remanescentes, um à um, carregados no lombo das costas por estes catadores e carregadores. Sem o funcionamento dos elevadores, tinham que fazê-lo utilizando-se as escadas do edifício. Todo material tinha um destino: o lixão, que hoje é chamado formalmente de aterro Central de Tratamento de Resíduos.
Consternado, este foi o edifício por onde passou por enorme zelo do destino, os 2 maiores nomes da atividade espacial no mundo: Yuri Gagarin (o primeiro homem no espaço) e Neil Armstrong (o primeiro homem na Lua). O primeiro havia almoçado no elegante restaurante no topo do edifício, com vista para o Vale do Anhangabaú, a convite do Sindicato dos Jornalistas. Ele chegou ao Brasil apenas 4 meses após sua pioneira viagem espacial, e faleceria em um acidente, 7 anos depois. O segundo, havia se hospedado 3 anos antes de sua viagem histórica a Lua. Ambos eram na prática competidores entre sí. Quais as chances de um simples documento comprabatório de visitação neste local por tais ícones, ter sobrevivido as comunidades que por anos, usavam papéis dos estoques como lenha de fogão? Quais as chances de encontrar os mesmos 2 ícones em um único documento? Documento este, que muito provavelmente, não existe similar no mundo.
Pois então, fruto de um garimpo de quase dez anos de buscas, este material chegou as minhas mãos assim como tudo que a LEI DA ATRAÇÃO tanto prospera em minha vida. Eu já acumulo algumas histórias incríveis de coincidências, e esta foi uma das mais especiais. O ‘’catador’’ que entre mais de uma tonelada de livros empilhados no fundo de uma garagem, encontrou com enorme esforço e persistência o referido material, certamente não se dispôs a desfazer-se do mesmo sem uma valorosa recompensa. E eu que jamais acreditaria na sobrevivência do mesmo, fiz questão em conferir sua autenticidade em mãos. Quase caí pra trás ao perceber que o livro de entradas era realmente original. E posso afirmá-lo com toda convicção, já que tenho um acervo de incunábulos, reconheço a idade de um papel só de olhá-lo.
Entre valores que eu mais uma vez não poderia suportar, recebeu de mim uma camisa autografada por Pelé, que a apenas alguns dias antes, havia falecido. Eu havia conseguido 2 camisetas autografadas pelo Pelé durante os festejos de 100 anos do Santos, no Museu Pelé, e havia justamente tido bom senso em 2012 de imaginar que uma delas seria de vital importância para minha vida algum dia, que de alguma forma seria doada para um bem maior. Pois bem, assim aconteceu, para felicidade de todos.
Troca justa, levei o livro para o aniversário de 92 anos do amigo e co-fundador da EMBRAER, Ozires Silva, deixar sua marca em material histórico inestimável, como o único herói da aviação brasileira ainda vivo a juntar-se com estas 2 outras figuras internacionais. Infelizmente, o Sr.Ozires não compareceu a sua festa no MAB – Memorial Aerospacial Brasileiro, em São José dos Campos, por motivo de saúde. Mas ouvimos uma linda apresentação do amigo Hans Donner, reconhecido editor na TV GLOBO, que lhe prestou uma homenagem. O mesmo que é de origem alemã, proferiu sua palestra contando como foi importante para ele chegar ao Brasil e encontrar tantas figuras importantes para ele, e então mencionou, para minha surpresa ‘’Pelé, que eu conheci no Hotel tal…’’ Era o mesmo Hotel! Por um momento, arregalei os olhos e quase pensei em tomar o microfone durante a apresentação de sua palestra para contar esta história que não parava de criar laços, mas isso não caberia adequadamente nos protocolos da organização.
Devido a enorme coincidência, aguardei o fim da apresentação para contar apenas em particular ao Sr. Donner. Só que não parou aí e eu fui ficando cada vez mais arrepiado com tudo que vinha me aparecendo. O organizador do evento, o Sr. Philipp Klose, Fundador do Instituto #BrazilsBestInstitute, havia preparado uma homenagem para os convidados, entre eles, eu. E havia solicitado ao Sr.Donner que entregasse uma placa comemorativa em mãos. Era minha chance de contar a história e também aproveitar, na ausência do Sr.Ozires, que o mesmo autografasse o livro, fruto desta história singular…Após eu contar toda esta história, Donner disse que era DEUS-CINDÊNCIA. Por quê?
Porque Donner havia solicitado quase duas décadas atrás que o astronauta Marcos Pontes (meu sócio e ele não sabia disso, pois se quer me conhecia até aquele momento) havia recebido de presente um relógio de sua autoria, projetado especificamente afim de ser levado ao espaço por um brasileiro algum dia. Só que o astronauta não conseguiu cumprir esta missão, pois o relógio havia sido banido do voo por motivos meramente burocráticos. O relógio ficou no seu pulso desde então. Expliquei a ele que eu, Marcos R. Palhares sou um dos brasileiro aguardando viajar ao espaço e já possuo um número na lista de espera para voar a bordo da Spaceship 2, da Virgin Galactic (outro fato que ele também não sabia e principal motivo por eu ter sido convidado naquela festa).
Conclusão: Ele não só autografou o livro como me pediu encarecidamente para levar seu relógio ao espaço! E que viagem para este relógio chegar lá…história de ficção, ou melhor, história real! Rimos muito e agora torço para que esta minha Missão Espacial realmente aconteça em breve, onde pretendo me tornar um astronauta comercial pela companhia e não só levar novamente a lembrança de Santos Dumont, assim como fez Marcos Pontes, como o relógio de Donner, uma experiência brasileira e também a nossa bandeira para fazer-se tremular novamente no ponto mais alto…afinal, toda história precisa de um final feliz!